Ela me disse uma vez que preferia morrer do que ter que
deixar aquela casa pra todos os filhos,
tu acreditas? Credo mana, quem te disse isso? Eu ouvi da boca dela, não mandou
recado, te juro. Meu queixo quase caiu quando falou isso. Mas ela vai ter que
morrer pra casa ir pros filhos, né? Sim, mas tu entendeste o que ela quis
dizer, né? Entendi, quer levar a casa pro túmulo, isso porque foi ela que
pariu, valha-me Deus.
Quando os meninos eram crianças ela dava de cipó neles, os
bichinhos pulavam o muro de casa fugindo dela, uma vez deu com uma colher
quente na cabeça de um zinho lá que até hoje tem as marcas daquilo... Eu hein,
tem gente que não nasceu pra ter filho... É, mas a vida dela não foi fácil também.
Contou pra mim que os meninos só faltavam deixar ela doida, tinha um que até
botar fogo na cama dela botou. Sangue de Cristo. É, diz que esse que fez isso
era igualzinho a ela, os outros meninos tinham até medo dele, pulavam o muro
também pra fugir desse menino...
Será que esse espírito ruim passa de mãe pra filho? Passa não, né mana, a
criança aprende olhando o exemplo. E o filho que colocou ela no asilo era
qual? Era esse mesmo, o que ateou fogo na cama. Mentira... É, parece que levou
ela pra lá e inventou uma história de que tinham entrado na casa pra assaltar e
que ela ia precisar passar um tempo na casa de repouso. Até mudam o nome pra
ficar bonito, né? Como é o nome disso, metonímica, né? Não, parece que é metáfora...
Mas isso não é quando a gente fala num sentido que não é o valendo? E não foi o que ele fez? Ah mana, eu
passei arrastada nessa matéria, o que eu sei é que eu fui visitar a velha lá e
soube pelas enfermeiras que o único filho que vai olhar a mulher é aquele da
colher quente na cabeça... mas que ela gosta mesmo é do ruim.
C.
ResponderExcluirmassa o novo visual. e a força dos contos cresce a cada postagem...
love ya,
r